Caderno de Erros
Equipe

Por que erramos na hora da prova? O que a ciência diz sobre atenção, memória e nervosismo nos concursos
Você estudou, revisou, fez simulados, dormiu bem na véspera… mas na hora da prova, algo simplesmente não sai como planejado. Erros aparecem em questões que você sabia resolver. A mente parece travar. E o que era confiança vira dúvida.
Por que isso acontece? A resposta está menos ligada ao quanto você estudou e mais à forma como seu cérebro reage ao estresse, à atenção dividida e ao excesso de cobrança.
Com base em pesquisas sobre neurociência cognitiva e psicologia da aprendizagem, a equipe do Caderno de Erros reuniu os principais motivos que explicam por que o cérebro “falha” em momentos de pressão e como você pode treinar para reduzir esse risco na próxima prova.
1. O cérebro não erra de propósito, ele se protege
Durante uma prova de concurso público, o nível de ansiedade tende a subir. Essa resposta é natural: o cérebro entende a situação como uma ameaça. Afinal, há pressão de tempo, expectativa e julgamento envolvido.
Quando o estresse aumenta, o corpo libera cortisol e adrenalina, hormônios que ajudam a reagir rapidamente, mas que também podem atrapalhar o raciocínio lógico e a memória de longo prazo.
Níveis elevados de cortisol reduzem a atividade do hipocampo, região responsável por consolidar memórias e recuperar informações aprendidas. É por isso que, mesmo sabendo o conteúdo, o concurseiro pode ter o famoso “branco” diante de uma questão aparentemente simples.
2. A atenção é limitada e fácil de sobrecarregar
Em uma prova longa, você precisa manter atenção sustentada por horas. Só que a mente humana tem capacidade limitada para lidar com muitas informações ao mesmo tempo. Esse fenômeno é chamado de sobrecarga cognitiva.
Pesquisas da Universidade de Stanford mostram que tentar processar vários estímulos simultaneamente reduz a eficiência em até 40% nas tarefas que exigem foco e memória de trabalho.
No contexto de concurso, isso significa que revisar várias alternativas ao mesmo tempo, reler enunciados repetidamente ou duvidar das próprias respostas aumenta o consumo de energia mental e gera fadiga precoce.
Para manter o foco, é importante treinar sua atenção da mesma forma que treina o conteúdo: com simulados cronometrados, pausas curtas de respiração e técnicas de ancoragem mental (como reler o comando principal da questão antes de analisar as opções).
3. A armadilha da autoconfiança e o “erro por excesso”
Há quem erre não por insegurança, mas por excesso de confiança. Quando o cérebro reconhece um padrão familiar em uma questão, ele tende a “completar” a resposta automaticamente, mesmo que os detalhes sejam diferentes.
Esse tipo de falha é conhecido como viés de familiaridade. É o mesmo mecanismo que faz você ler palavras trocadas sem perceber, porque o cérebro preenche o que “acha” que deveria estar lá.
Na prova, o viés de familiaridade leva a erros como marcar a resposta sem ler todo o enunciado ou ignorar palavras-chave que mudam completamente o sentido da questão. Para evitar isso, pratique atenção consciente: leia até o fim, sublinhe termos como “exceto”, “correto”, “incorreto” e respire antes de confirmar a marcação.
4. Memória sob pressão: o apagão temporário
O famoso “branco” é um fenômeno real, e não significa que você esqueceu o conteúdo de vez. Durante o estresse agudo, a liberação de cortisol e noradrenalina reduz a comunicação entre o córtex pré-frontal (responsável pela tomada de decisão) e o hipocampo (onde estão armazenadas as memórias).
Estudos de neuroimagem mostram que, sob pressão, o cérebro prioriza respostas de sobrevivência, desviando recursos da área racional para o sistema emocional (Nature Neuroscience, 2015).
A boa notícia é que o cérebro também aprende a lidar melhor com isso. Treinar em ambientes semelhantes ao da prova (mesmo que seja em casa, cronometrando o tempo e simulando o nervosismo) ajuda o corpo a entender que aquele estresse é controlável. É o que os psicólogos chamam de habituação ao estresse.
5. A importância da autocompaixão e do erro consciente
Muitos candidatos erram mais porque se cobram demais. A autocrítica excessiva aumenta a ansiedade e, paradoxalmente, diminui o desempenho.
Profissionais que adotam uma postura de autocompaixão (reconhecem os erros sem se punir) aprendem mais rápido e mantêm melhor foco sob pressão.
Em concursos, isso significa aceitar que o erro faz parte do processo e que cada falha é um dado valioso para ajustar a estratégia. É aqui que entra o caderno de erros: ele não é um lembrete de fracassos, e sim um registro de crescimento.
Ao revisitar seus erros e entender o motivo de cada um, você treina o cérebro a lidar com falhas sem ativar o mesmo circuito de estresse, o que aumenta sua assertividade ao longo do tempo.
6. Como transformar o erro na prova em aprendizado real
Errar na prova é frustrante, mas pode ser o ponto de virada na sua trajetória.
Após cada simulado, registre não só o que errou, mas por que errou. Foi falta de atenção? Cansaço? Falha de interpretação? Dúvida conceitual?
Essas anotações revelam padrões de comportamento e ajudam a montar estratégias específicas. Por exemplo, se você costuma errar no final da prova, é provável que precise ajustar o ritmo. Se os erros são por distração, talvez seja hora de treinar foco e respiração.
Com o tempo, o concurseiro deixa de ver o erro como inimigo e passa a enxergar como um indicador de progresso. Esse é o verdadeiro aprendizado inteligente.
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